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Com hamburgueria, amigos levam mais sabor e cultura para a favela

Criada há três anos, Malokero Burger tem unidade só para delivery e um salão onde há música ao vivo e shows de stand-up comedy

Renda Extra|Mariana Botta, do R7

Hambúrgueres da Malokero Burger, empresa criada por dois jovens de Paraisópolis
Hambúrgueres da Malokero Burger, empresa criada por dois jovens de Paraisópolis Hambúrgueres da Malokero Burger, empresa criada por dois jovens de Paraisópolis

Levar opções de hambúrgueres mais saborosos e caprichados para a região onde moram, a comunidade de Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo, foi a principal motivação dos amigos Rogério Pereira dos Santos e Tayslan Alves da Silva, os dois com 35 anos, para criar a Malokero Burger, em 2019.

Eles começaram seu negócio em uma sala de 5 m², mas hoje já administram duas lojas: uma exclusiva para delivery; a outra com um salão para receber cerca de 50 pessoas. Lá são realizados shows de stand-up comedy e música ao vivo, eventos com karaokê e apresentações de novos talentos.

"A gente sempre quis empreender. Para quem é morador de comunidade, é muito comum o sonho de ter seu próprio negócio, de ter um comércio. E a gente já pensava em um projeto de hambúrguer; eu já sabia que, em algum momento da minha vida, eu ia abrir uma hamburgueria, porque eu já fazia hambúrgueres em casa, aos fins de semana, para os meus amigos e a galera daqui curtir", conta Rogério. "Quando eu chamei o Tayslan, ele topou na hora. A gente falou sobre o projeto, começou a pensar no cardápio e a montar tudo do zero", lembra.

Os amigos contam que esse início foi em julho de 2019. Quatro meses depois, no dia 29 de novembro, foi inaugurado o ponto de delivery da Malokero Burger. "Era só uma portinha, em um espaço mínimo, com uma cozinha bem pequena, mas com uma proposta inovadora, muito diferente, do que existia aqui dentro", diz Tayslan.

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Rogério e Tayslan, sócios da Malokero Burger
Rogério e Tayslan, sócios da Malokero Burger Rogério e Tayslan, sócios da Malokero Burger

Pouco tempo depois da abertura do negócio, foi detectado o primeiro caso de Covid-19 no mundo. "Durante a pandemia, nossa demanda cresceu demais, por isso ficamos pouco tempo nesse primeiro endereço, só uns quatro ou cinco meses. Tivemos um boom nos pedidos e precisamos mudar às pressas para um espaço maior, com uma cozinha mais equipada", revela.

Rogério acrescenta que, na mudança, já aproveitaram para ir para um local com salão, onde poderiam, posteriormente, fazer o atendimento em mesas. "Na pandemia, a gente ficou aberto todos os dias. Muitos estabelecimentos fecharam, mas a gente, ao contrário, cresceu muito nessa fase."

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Antes de ser empresário, Rogério trabalhava como gerente em uma casa de comida saudável. "Nós abandonamos nossos empregos para nos dedicarmos ao nosso negócio, que virou a nossa fonte de renda", afirma.

Do projeto à execução

Rogério e Tayslan fazem parte do mesmo grupo de amigos e se conhecem desde a infância. Como os dois já trabalhavam na área de gastronomia, acabaram se aproximando mais e começaram a compartilhar o sonho de empreender nesse setor.

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"A ideia, no começo, era gastar bem pouco para abrir o negócio, começar a trabalhar, e adequar as necessidades com o tempo. Pensamos em trabalhar com produtos mais acessíveis e um espaço pequeno, para não precisar gastar muito", diz Rogério. "Pegamos utensílios que a gente tinha em casa, reaproveitamos muita coisa. Foi tudo na cara e na coragem, porque a gente tinha que começar com um investimento inicial pequeno", conta Tayslan. 

De julho a novembro, enquanto cuidavam da papelada para a abertura da empresa, eles também montaram o cardápio da Malokero Burger. "Criamos tudo do zero, passamos alguns meses testando molhos, quase diariamente. Outra preocupação foi com as combinações, os blends das carnes, para termos hambúrgueres diferentes. Também experimentamos pães, até encontrarmos o ideal", relembra Rogério.

A escolha dos "campeões", revela, teve a participação dos amigos, irmãos e pais. "Um desses amigos, inclusive, virou nosso sócio", comenta Tayslan. "Ele foi 'cobaia' no começo do projeto, foi lá em casa ajudar a gente a fazer uns testes, e um ano depois entrou para a sociedade", completa Rogério.

Eles se referem a Ygor Antonio Ferreira de Lima, o único dos três que completou o ensino superior. Formado em administração de empresas pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), ele tinha trabalhado muitos anos em banco e, agora, dá todo o suporte financeiro à empresa. "Costumo dizer que era o braço que faltava", comenta Rogério.

A hamburgueria

Além dos hambúrgueres "gourmetizados", a Malokero Burger capricha na apresentação e preparo dos acompanhamentos, drinques e sobremesas – o que os sócios acreditam ser um dos motivos do sucesso. "Antes de a gente abrir nosso negócio, já tinha hambúrgueres em Paraisópolis, só que não com essa qualidade toda. Como a gente tinha trabalhado em restaurantes de renome, sabia que produtos de qualidade fazem a diferença, e quisemos trazer isso para cá", diz Rogério. 

Milk Shake, sobremesa da Malokero Burger, de Paraisópolis
Milk Shake, sobremesa da Malokero Burger, de Paraisópolis Milk Shake, sobremesa da Malokero Burger, de Paraisópolis

Tayslan conta que existem alguns tipos de produto que não chegam à comunidade e, por isso, eles decidiram investir nesse mercado. "Trouxemos essa ideia para cá até como uma forma de inclusão social e econômica, de inserir o que é de fora para dentro na favela."

"A gente quer mostrar que a favela não tem só peão, mão de obra. A gente pode produzir e consumir produtos de qualidade. A maioria dos moradores daqui, para conseguir ter algo de qualidade, tem que se deslocar para bairros mais elitizados. Por que não trazer a qualidade para cá?", diz Rogério, explicando sua aposta na produção artesanal. 

Ele relata que, para oferecerem preços acessíveis, foram alguns sacrifícios, como ir até os fornecedores todos os dias e diminuir a margem de lucro. Mesmo assim, o empreendimento dá resultados. No primeiro ano, apenas com delivery, o faturamento foi superior a R$ 200 mil.

No ano passado, somando as duas unidades, os ganhos superaram R$ 900 mil, e a projeção deles para o fechamento de 2022 é um faturamento de R$ 800 mil em apenas um dos pontos.

"Hoje, no espaço exclusivo para delivery, vendemos uma média de 120 lanches por dia, atendendo cerca de 50, 60 clientes. Nosso perímetro de entrega é de 5 km a partir do ponto onde estamos, o que inclui Morumbi, Panambi, não só Paraisópolis", explica Tayslan.

O próximo passo, para acontecer na velocidade que os amigos desejam, ainda depende de investimento externo: trabalhar com franquias, para poder levar esse modelo de negócio para outras comunidades do Brasil. 

Comida e cultura

Na loja com salão, a Malokero Burger tem um espaço para apresentações. "Quem é da comunidade, canta rap ou faz poesia pode participar de um evento que fazemos, sem receio de não ter plateia", diz Rogério. 

Às segundas-feiras, os empresários promovem shows de stand-up comedy, com artistas conhecidos. "Foi algo que a gente quis fazer porque é difícil encontrar stand-up em restaurante, principalmente em favela, né? Desde o começo, pensamos muito nisso, porque a gente consumia muito, mas só uma vez ou outra em teatro, e via muito no YouTube", explica Tayslan. 

"A gente falou: cara, é muito difícil um morador sair daqui para ir ver um show desses. Tem que ir para o centro, pegar ônibus e metrô ou Uber, porque eles não vêm para cá [se apresentar]", completa o sócio. Por isso, os empresários contratam os comediantes, vendem mesas e ingressos a preços populares, entre R$ 20 e R$ 25.

"O morador que está voltando do trabalho pode vir aqui consumir um pouco de entretenimento, curtir com a gente. Já produzimos muitos shows, graças a Deus, todos com ingressos esgotados, lotados mesmo. Mas com todo mundo sentado, confortável, porque a venda é limitada", conta Rogério. "Desde o início, nós pensamos: vamos trazer coisas diferentes, no maior número de dias possível, para poder lotar isso aqui todos os dias", completa.

Ele acredita no potencial de crescimento do negócio, primeiramente dentro de Paraisópolis. "Só aqui vivem 100 mil pessoas, e nós não conseguimos atender nem 10%, é muita gente. Nossos funcionários são todos da comunidade, e temos projetos para qualificar a galera daqui, pessoas sem experiência nenhuma, recém-saídas do ensino médio", diz Rogério. 

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