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'Falar sobre dinheiro é tão íntimo quanto beijo na boca', diz Galisteu

Apresentadora do "Power Couple" e economista  dão dicas sobre como os casais podem organizar a vida financeira

Renda Extra|Mariana Botta, do R7

Adriane Galisteu é a apresentadora do reality show Power Couple Brasil 6
Adriane Galisteu é a apresentadora do reality show Power Couple Brasil 6 Adriane Galisteu é a apresentadora do reality show Power Couple Brasil 6

Com o fim da sexta edição do Power Couple Brasil, além das emoções da competição e a torcida pelos participantes, o que fica como lição para os fãs são as dificuldades do convívio no confinamento - comum a todos os reality shows, e o desafio de decidir a melhor maneira de administrar o dinheiro do casal, um diferencial da atração comandada por Adriane Galisteu.

Essa questão é bem real e faz parte da vida de muita gente. Há várias histórias de namoros e casamentos que terminam por causa de problemas envolvendo dinheiro (ou a falta dele). Alguns relacionamentos nem viram namoro, só pela impressão inicial que se pode ter da outra pessoa: muito econômica, a famosa "mão de vaca", ou generosa demais, a verdadeira gastadora.

Matheus Sampaio e Brenda Paixão, campeões do Power Couple Brasil 6
Matheus Sampaio e Brenda Paixão, campeões do Power Couple Brasil 6 Matheus Sampaio e Brenda Paixão, campeões do Power Couple Brasil 6

Há, ainda, um incontável número de processos judiciais decorrentes da falta de acordo sobre pensão e divisão de bens, após uma separação. Mas, por que uma relação, baseada em amor e afeto, fica tão vulnerável à questão financeira? Afinal, amor e dinheiro são realmente dois assuntos que não devem se misturar?

Para Paula Sauer, professora de economia comportamental da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), é o contrário. É sim preciso conversar sobre dinheiro e como o casal pretende se organizar financeiramente. Entretanto, o melhor é ir com calma, porque falar sobre dinheiro é uma dificuldade não só do brasileiro, mas "do latino de maneira geral, dos habitantes de países onde existe uma grande desigualdade social", esclarece.

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A professora explica que se trata de uma característica cultural, e esse assunto acabou se tornando muito íntimo. "Por exemplo, ninguém fala o quanto ganha, nem sobre seus investimentos. Se me perguntarem qual é o meu salário, vou achar a pessoa intrometida ou até interesseira, que ela está querendo saber demais. Por outro lado, as pessoas sempre fazem o possível para ostentar, seja comprando o celular do último modelo, mostrando a chave do carro, falando das viagens de avião na primeira classe", diz.

Para Adriane Galisteu, falar de dinheiro é "tão íntimo quanto um beijo na boca de língua". Por isso, ela diz que as pessoas têm de se conhecer um pouco mais antes de tocar nesse assunto. "No começo de um relacionamento, a gente está apaixonado, está tentando mostrar outras coisas, as nossas qualidades, né? Para falar de dinheiro, tem que ter uma relação de confiança muito bem estabelecida" afirma a apresentadora.

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Mas Paula considera que o tema "poder aquisitivo" entra na vida de um casal quando os envolvidos começam a se conhecer, antes mesmo de verbalizarem o assunto. "A partir do momento que olha para o outro, eu acho que a gente já vai fazendo um raio-x. Observa como o outro se veste, aonde está me levando, como vai me levar, o que vai pedir, sobre o que vai conversar, como vai agir na hora de pagar a conta. Esse olhar, essa atenção, já tem relação com dinheiro, é uma verificação de compatibilidade também da questão financeira".

Adriane acredita que é aos poucos, no dia a dia, que se conhece o comportamento financeiro do pretendente ou parceiro: "A convivência faz com que você comece a mostrar a sua postura com o dinheiro. É o tipo de coisa que você começa a perceber rapidamente num relacionamento".

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Na fase inicial, a paquera tem mais chance de evoluir se houver identificação dos perfis de consumo, porque, se as maneiras de gastar dinheiro forem muito diferentes, um dos dois parceiros pode se constranger por não conseguir acompanhar os gastos do outro, ou se irritar por sempre ter de pagar tudo. De todo modo, a partir do momento em que decidirem levar a relação adiante, vai ser preciso falar sobre as possibilidades e limitações de cada um.

Transparência

"Não é uma conversa fácil, mas é necessária. É importante deixar as coisas claras, para evitar brigas depois. 'Quando a gente sair para jantar, vai dividir a conta?' Se for assim, precisa ser em lugares que os dois consigam pagar; 'quando formos viajar, temos de planejar com seis meses de antecedência', isso para que os dois possam se divertir, e evitar que um vá desesperado, gastando mais dinheiro do que tem na conta", ensina Paula.

Transparência é importante, mesmo que, muitas vezes, pareça até um pouco excessivo. Para algumas pessoas, o outro não precisa saber tanto assim. "Tudo depende do tipo de relação que você pensa em ter com aquela pessoa, se quer ter uma vida com aquele sujeito. Para ter um relacionamento legal para os dois, vai ser preciso falar sobre dinheiro, sobre sonhos e objetivos. Por isso, a forma como cada um lida com o que ganhoa é importante", orienta a professora.

"Sabe, eu acho que isso tem que ser combinado, mesmo porque varia de casal para casal, não é? É de relacionamento para relacionamento, cada um tem um jeito de se relacionar com o dinheiro, e acho que o tempo é que acaba conduzindo a intimidade do casal. O relacionamento do casal vai levar os dois para uma nova forma de lidar com a questão financeira", diz Adriane, que acompanhou bem de perto as decisões dos casais do "Power Couple".

Histórias de filme

A educadora da ESPM afirma que o dinheiro, em excesso ou na escassez, é um elemento que gera situações de desconforto em grande parte dos casais. Não é a toa que a frase "antes é meu bem, depois é meus bens", sobre o casamento, ficou famosa. Ela conta que há uma pesquisa que mostra, ano a ano, como está a relação do casal com o dinheiro, e os resultados mostram que sempre é complicado falar sobre o tema. 

Além disso, as pessoas só contam o quanto elas ganham, até para a família, em algumas situações, como o nascimento de filho, desemprego, divórcio ou morte. "Existem muitas circunstâncias em que, com o falecimento do provedor, a família que está esperando receber uma herança, recebe uma dívida", relata Paula. "As pessoas dizem: 'Nossa, mas ele nunca deixou faltar nada', ou 'a gente acabou de voltar de viagem maravilhosa, como é possível?'".

Algumas pessoas, ao ficarem desempregadas, não contam para os familiares e mantêm sua rotina: acordam, colocam a roupa para ir trabalhar, botam a bolsinha debaixo do braço e saem de casa. "Eles não têm coragem de falar para a família que perderam o emprego, tamanho é o simbolismo do dinheiro."

Para Paula, o dinheiro representa sucesso, liberdade, prazer, prazer, e perder isso significa fracasso, insucesso. A pessoa é vista como perdedor. "Por isso, ela pensa: 'se eu contar para ela que eu perdi o emprego, como ela vai me enxergar? Deixar de ganhar dinheiro pode transformar minha imagem, de provedor, de quem dá presente, de carinhoso e divertido, em uma outra coisa. Então, eu omito que a minha relação com o dinheiro mudou, porque eu não me sinto confortável, não quero enfrentá-la".

Planejamento

A professora diz que muita gente tem uma ideia errada sobre planejamento financeiro, acha que significa cortar, cortar, cortar e economizar, viver apenas para pagar contas e guardar dinheiro. Mas esclarece que é o oposto: "A gente não faz o planejamento financeiro para se amarrar, é para ter liberdade, para poder fazer pequenas indulgências, poder se dar pequenos prazeres sem culpa. Ter prazer é importante", afirma.

Por isso, por mais que o casal fale sobre como administrar as finanças, não há fórmula mágica: é importante combinar o que vão fazer com os salários e como vão pagar as contas, e seguir o combinado. Isso se os dois quiserem mesmo que o relacionamento vá adiante. "Não dá pra dividir a vida com alguém e você ter o dinheiro ali, como um segredo. Uma hora, ele vai minar essa relação", analisa Paula Sauer.

No namoro, as finanças de cada um se mantêm separadas, cada um tem o seu dinheiro, e o planejamento diz respeito às atividades em dupla, como jantares, passeios e viagens. Conforme os dois forem se conhecendo melhor, e a relação ficar mais séria, chega a hora de dar um passo maior. "Com o passar do tempo, os indivíduos vão se misturando. O tempo se mistura com o tempo do outro, assim como os compromissos e os amigos, e começam a ser feitos planos a longo prazo, uma viagem mais cara, uma poupança. Aos pouquinhos um vai se misturando no outro, inclusive financeiramente", explica a professora. 

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Ela diz que o acordo pode incluir um "dinheiro do casal", por exemplo, mas isso não é obrigatório. O valor das contas a serem pagas pode ser somado e, depois, dividido igualmente entre os dois, ou as despesas podem ser separadas conforme o custo, e cada um ficar responsável pelo pagamento de certa quantia de boletos. O fundamental é que se possa manter a individualidade, ter uma parte do salário para gastar com o que quiser.

Outra observação da economista é sobre as reais possibilidades dos parceiros quando há diferenças salariais. "Por exemplo, se o casal mora junto, e a despesa total da casa em um mês fica em R$ 6.000, eu ganho R$ 10 mil e meu namorado tem um salário de R$ 4.000, não parece justo dividir as contas igualmente. Fica uma demanda muito pesada para um lado, então o combinado pode ser 'agora estou com uma situação melhor, pago um valor maior, mas quando a sua melhorar, a gente revê nosso acordo para equilibrar essa despesa'".

Na opinião de Adriane, o menos complicado é cada um ter o seu dinheiro e dividir as contas. "Mas dependendo do tipo de relacionamento que se estabelece, dependendo do casal, muitas vezes, juntar o dinheiro é uma forma mais inteligente para pagar tudo junto. Vai muito de casal para casal".

Para Paula, não importa muito a forma que cada casal escolhe para fazer o planejamento financeiro e controlar os gastos, por isso, ela não indica o uso de aplicativos, sites ou tabelas específicos. "Pode ser que você se dê bem anotando seus gastos em um caderno, e o outro, acompanhando a fatura do cartão. Não tem certo ou errado, porque não adianta criar a melhor planilha do mundo, e não ter paciência para alimentá-la. O ideal é usar o que se adapta melhor às suas necessidades", finaliza.

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