Tiago Haka tem 35 anos, é de Brasília e veio para São Paulo em 2015, com apenas R$ 800 no bolso, quando começou a trabalhar de recepcionista em um hotel da capital paulista. Na pandemia, com as dificuldades do setor de hospedagem, foi demitido.
"Fiquei desesperado porque moro sozinho há sete anos, tinha aluguel para pagar, e acabei indo para a casa de um amigo meu. Entre uma cachaça e outra, ele me deu a ideia de fazer faxina, para ter um dinheiro extra", conta.
No começo, como ele ainda tinha o seguro-desemprego, a grana das diárias servia para conseguir curtir um pouco a vida.
Quando realmente iniciou as faxinas, depois de uma simples divulgação, Haka ficou receoso por ser homem e não ter a experiência de limpar a casa dos outros, mas foi mesmo assim. "Cheguei em casa e vi uns vídeos de YouTube de diaristas, de como cobrar, como limpar, como se comportar, para eu ter uma base de conhecimento de como agir", conta.
No início, era difícil conseguir clientes, razão pela qual os primeiros foram os próprios amigos, e depois os amigos deles. Aos poucos, e com divulgação na internet, onde ele mostra seu trabalho e sua rotina, além de dicas, a gama de clientes cresceu.
No Brasil, mais de 90% das pessoas que trabalham como diaristas, domésticas ou faxineiras são mulheres, o que faz com que Tiago chame a atenção do público e dos clientes.
Ele diz que nunca sofreu preconceito de gênero, mas que percebe algo diferente em pequenas coisas, às vezes um olhar ou uma forma de falar, que denotam o preconceito das pessoas com a profissão de diarista, da qual ele tem orgulho – afinal, "é como qualquer outra, e a função da limpeza nunca vai deixar de existir no mundo".
"Enquanto limpo, a pessoa tem tempo de fazer a unha, cuidar dos filhos ou até mesmo não fazer nada, isso é muito importante", afirma.
Tiago conta que é uma pessoa que não aceita levar desaforo para casa, nem ouvir humilhações, e já até deixou de aceitar trabalhos por essa razão, mas questiona quantas pessoas aceitam por não terem opção e estarem desesperadas por dinheiro. Por isso, sempre que pode, tenta alertar outras diaristas sobre esse problema, sempre deixando claro que não quer, com isso, se tornar uma "referência".
Recentemente, postou em seu Twitter várias dicas de como limpar melhor a casa, que vão desde técnicas a produtos, e o post viralizou. Atualmente, a publicação tem mais de 150 mil curtidas, e quase 20 mil pessoas já a compartilharam.
"Não tinha intenção de fazer publicidade, até porque eu tinha 200 seguidores, era difícil imaginar que teria 150 mil curtidas. Quando eu fui dormir, tinha 100 curtidas; quando eu acordei, estava em 10 mil", relata.
Hoje, ele trabalha somente com isso e ganha dinheiro suficiente para pagar sua faculdade de marketing. Além disso, junta uma grana para viajar para aprender inglês. O destino é a Irlanda, e, até 2024, Tiago pretende trabalhar bastante para realizar esse sonho.
"Eu preciso ampliar minha área profissional e ter um novo ciclo na minha vida, não sei o que será no futuro, mas busco não pensar muito nisso. Só desejo coisas boas", finaliza.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Lúcia Vinhas