Motorista de transporte escolar em carreata por apoio à categoria
DivulgaçãoTodos os dias, debaixo de chuva ou de sol, Hemerson Luiz Campos (o Tio Hemerson, como gosta de ser chamado), levava e buscava estudantes em três horários: manhã, tarde e noite.
A rotina, seguida durante 14 anos, foi interrompida em março do ano passado quando a pandemia do novo coronavírus chegou fortemente no Brasil.
De lá para cá, foram várias tentativas para sobreviver. Ele se desfez de bens para conseguir manter as contas em dia, tentou atuar como motorista de aplicativo e, há dois meses, vem fazendo entregas de compras de supermercados.
O caso de Campos é compartilhado por toda a categoria que viu sua atividade remunerada – que exige curso especial, documentação específica e uma rotina de inspeção veicular – ser interrompida de uma hora para outra.
A estimativa da Ugetesp (União Geral do Transporte Escolar de São Paulo) é de que 12 mil profissionais tiveram seus contratos de prestação de serviços – assinados com pais e prefeitura – suspensos só no estado de São Paulo.
Malafaia disse que, como entidade representativa da categoria, foi até o Mercado Livre e a Direct oferecer o serviço dos motoristas.
“O comércio eletrônico cresceu muito no período e podíamos fazer o serviço de transportes de produtos. Cerca de 100 motoristas realizam esse tipo de trabalho no momento.”
Além desse grupo, Malafaia diz que há motoristas inscritos na prefeitura para realizar o transporte de crianças que foram direcionados para prestar serviço em outras autarquias do município.
“Quem aceitou o serviço vem recebendo integralmente o que ganhava para transportar crianças. Quem não aceitou, está em casa recebendo 50% do que tirava por mês.”
Marcos Roberto Ferreira, o Tio Marcos, como prefere ser chamado, começou a atuar com o transporte escolar em 2019.
Tio Marcos sempre sonhou em ser motorista de transporte escolar
Arquivo pessoal"Era um sonho antigo, comprar minha van, tirar a licença e começar a transportar crianças. É muito gratificante ver a carinha delas, ver que elas te reconhecem e ouvir o tio Marcos saindo da boca delas", diz.
Ferreira diz que, além de reduzir os gastos na sua casa, precisou se desfazer do carro, da moto dos seus sonhos e manter apenas a van para trabalhar.
Das 7h ou 8h de trabalho que tinha com o transporte escolar, incluindo os intervalos que tinha para tomar café, almoçar, jantar e desfrutar de momentos com a família, desde julho do ano passado Ferreira trabalha mais de 12 horas por dia, sem intervalos e ver a família como gostaria.
“O que mais nos entristece é que fomos esquecidos e não tivemos nenhum apoio do governo para nos mantermos nesse período. Muitos motoristas tiveram de vender as vans porque não conseguiriam terminar de pagar o financiamento”, lamenta.
Depois de atuar por um longo período como monitora na van escolar do seu irmão, Marcia Souza Cruz finalmente realizou o sonho de ter a sua própria van no início do ano passado.
Assim como Campos e Ferreira, Marcia também reclama da falta de auxílio do governo. “Não estou pedindo dinheiro para ficar em casa. Eu quero trabalhar, mas quero uma atividade digna”, ressalta.
Márcia continua: “Fiz curso para atuar com o transporte escolar, paguei todas as licenças exigidas, além dos exames. Sou mãe solo e preciso de uma remuneração digna para sustentar minha família”.
A motorista e os colegas chegaram a participar de manifestações para pedir ajuda do governo, mas desanimaram com a falta de apoio para a categoria.
"Os políticos até que nos recebiam, mas nada saiu do papel até hoje", diz Ferreira.